Ilda Magalhães começou a trabalhar ainda muito jovem como professora, em Miranda. Foi seu primeiro emprego. Aprendeu na prática a alfabetizar crianças numa época em que universidades eram escassas. Além de ensinar o a-bê-cê, não economizava nas palavras e gestos de carinho distribuídas aos alunos. Ficou eternizada na memória de muitos como alguém que mostrou o valor das coisas simples da vida. Sair com a turma da pré-escola por alguns minutos para deitar na quadra da escola e observar o céu, por exemplo, foi uma experiência inesquecível que a professora proporcionava. Depois, todos tinham que fechar os olhos para ouvir uma historinha. Gostava de cantar junto aos alunos e estava sempre bonita e bem arrumada na escola. Uma vez, o visual chamou mais atenção porque fez luzes no cabelo, e ela achou graça dos alunos quererem ver de perto e tocar os novos fios loiros. No seu casamento, as crianças da escola se vestiram de branco e foram pajens da professora querida. Duas filhas vieram daquela união, e com elas o diploma do magistério, enfim. A mudança de Miranda para Campo Grande na década de 90 em nada mudou educadora carinhosa, paciente e muito criativa que Ilda era. Só fez aumentar o número de corações conquistados. O Lado B mostrou um deles aqui , no último Dia dos Professores. Depressão e mudança de profissão - Por causa de uma depressão pós-parto que acabou se prolongando, Ilda começou a ter lapsos de memória pouco depois de começar a morar na Capital. Abandonar as salas de aula foi inevitável. Até o nome dos alunos era difícil lembrar. Ela então se tornou agente comunitária de saúde no Bairro Aero Rancho. A nova profissão também tinha muito a ver com seu jeito de ser. Jeito de quem fazia do trabalho um instrumento para dar afeto e ajudar o próximo. Mas acabava tomando para si a dor e a dificuldade do outro, de uma forma que a adoeceu mais. Nas casas que vistoriava, entendia como a desigualdade social poderia castigar famílias e se entristecia. Sempre fazia tudo o que estava ao alcance para ajudar. Quis trocar novamente de profissão e formou-se no curso técnico de enfermagem. Trabalhou até a aposentadoria no centro de esterilização da Santa Casa de Campo Grande. Foi dedicada, gentil e amorosa em todos os lugares onde trabalhou. Mãe e avó - Quem narrou a história de Ilda até aqui foi a filha Dyovana. Ela juntou recortes do que sabe sobre a história da mãe a relatos que inundaram suas caixas de mensagem no dia em que Ilda morreu. Fora tudo o que conseguiu ser no trabalho, ainda conseguiu ser uma mãe e avó maravilhosas em casa. "Ela deixava de lavar roupa ou de fazer qualquer outra obrigação em casa para tomar banho de chuva com a gente", lembra. Dyovana tem uma irmã. Deixou três netos: a filha de Dyovana e outros dois, da irmã. Sua vida foi interrompida enquanto cuidava do mais novo, ainda recém-nascido. Ilda morreu aos 52 anos em abril de 2021, devido a complicações da covid-19. "Não sem antes levantar corrente de orações e muita torcida por sua vida na família e por parte de quem ela tocou o coração por onde passou", lembra a filha. Foram 15 longos dias de internação até o ponto final de sua história. O que ficou de quem partiu - Dyovana acredita que mostrar o poder do afeto foi a maior herança da mãe e uma pequena revolução dela em tempos em que o individualismo reina. "Ela era só amor pelo próximo, doação mesmo. Uma pessoa muito querida por todos e que deixa saudades demais". O conforto dela e da irmã é saber que Ilda deixou memórias vivas e plantou amor em muitos corações espalhados por aí. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News . Siga o Lado B no WhatsApp , um canal para quebrar a rotina do jornalismo de MS! Clique aqui para acessar o canal do Lado B . Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) .