O feto calcificado, cuja suspeita de médicos é que tenha passado cinco décadas no abdômen de paciente no Hospital Regional de Ponta Porã (MS), seria irmão de sete – 6 mulheres e um homem –, tio de 30 crianças, adolescentes e adultos, e tio-avô de 5. Descoberto durante tomografia computadorizada, feita para verificar qual o motivo das dores que idosa de 81 anos sentia, o bebê “litopédio”, como é chamado na Medicina, era filho da dona de casa Daniela Almeida Vera. Moradora de uma agrovila em Aral Moreira – município a 376 km de Campo Grande –, dona Daniela era kaiowá e com a coragem da etnia indígena conhecida por ser aguerrida, criou os filhos, netos e bisnetos na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, mas tinha “medo de médico”, relata um dos filhos, Vanderlei Avalo Almeida. A mãe sempre ignorou uma dorzinha abdominal que a incomodava, até que na semana passada, sofreu uma queda. “A partir daí q ela começou sentir dor mesmo, sabe? Começou ficar tonta, fraca, até q foi se consultar no posto de saúde”. O filho conta que a mãe era teimosa, nunca ouviu os apelos dele e das irmãs para que fosse ao médico. “Ela tomava algum remédio e passava a dor, e assim ela continuava. Não queria ir ao médico porque ela achava que era tumor, tinha medo de cirurgia”. Na semana passada, dona Daniela não escapou. Chegou ao Hospital Regional de Ponta Porã com quadro de infecção que se espalhava por todo o corpo. A idosa teve de ser induzida ao coma para ser intubada e foi durante o exame de imagem, em busca do causa da inflamação gravíssima, que médicos localizado o feto. Conforme nota, divulgada nesta terça-feira (19) pelo Hospital Regional Dr. José de Simone Netto, a tomografia 3D diagnosticou a presença de feto calcificado – condição rara chamada de litopedia, consequência de uma gravidez ectópica (gestação em que o óvulo fertilizado é implantado fora do útero) que evolui para morte fetal e calcificação. “A partir da infecção constatada, equipe médica da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) decidiu pela realização cirúrgica de emergência, com a finalidade de remover o feto e controlar o processo infeccioso. Vale ressaltar que em virtude da sepse apresentada – doença potencialmente grave desencadeada por uma inflamação que se espalha pelo organismo –, a cirurgia foi adotada como medida para tentar impedir o óbito da paciente, no entanto, sem sucesso”. Vanderlei afirma que receber a notícia da morte da matriarca foi a pior da vida dele. “Um dia antes, ela falou que melhor, mas no outro dia recebemos a notícia que ela tinha falecido. Eu estava no serviço, mas deixei tudo pra trás. Quando cheguei aqui em casa, encontrei todas minhas irmãs chorando”. O caso – Conforme noticiado em primeira mão pelo Campo Grande News , nesta segunda-feira (18), a suspeita inicial era que o feto papiráceo, quando ocorre espécie de mumificação do bebê morto, estivesse com a paciente há pelo menos 56 anos, quando ela relatou ter tido o último parto. Depois, médicos descobriram que, na verdade, se tratava de um caso de litopedia – condição rara consequência de uma gravidez ectópica (gestação em que o óvulo fertilizado é implantado fora do útero) que evolui para morte fetal e calcificação. Situações como essa podem acontecer em gestações de um ou mais fetos. Quando um deles morre, o organismo pode rapidamente absorver os fluídos fetais, fazendo com que haja o "sumiço" parcial ou total daquela formação. A chama SGD (Síndrome do Gêmeo Desaparecido) é mais comum do que se pensa. Para o Whitecast, podcast especializado em conteúdo médico, o ginecologista e obstetra formado pela Universidade Estadual de Londrina, João Marcelo Coluna, explicou que cerca de 50% das gestações gemelares chegam ao fim com apenas um dos bebês. Quando não há o desaparecimento por completo, pode haver formação do feto papiráceo ou litopédio. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .