"Para garantir a sobrevivência da democracia, deveria se formar uma ampla coalizão, do PT à centro-direita, por um único candidato — provavelmente Lula"
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“Para garantir a sobrevivência da democracia, deveria se formar uma ampla coalizão, do PT à centro-direita, por um único candidato — provavelmente Lula”
O repórter do “Estadão” Matheus Lara entrevistou o cientista político e professor de Harvard Steven Levitsky — autor do livro “Como as Democracias Morrem” (Companhia das Letras, 272 páginas, tradução de Renato Aguiar), em parceria com Daniel Ziblatt — na terça-feira, 7. “‘Ataques ao Judiciário são o primeiro passo de autocratas para tentar ficar no poder’, diz o pesquisador.
Levitsky assinala que “os autocratas costumam usar a violência, às vezes real e às vezes fictícia, como desculpa para tentar destruir pouco a pouco a democracia. […] No momento, duvido que Bolsonaro tenha apoio público e credibilidade suficientes para se safar de uma aventura desse tipo, mas é muito importante estar vigilante”.
Bolsonaro disse, no dia 7 de setembro — data em que se comemora a Independência do Brasil (no próximo ano, a autonomia do país completa 200 anos) —, que não vai cumprir mais “ordens” do ministro Alexandre de Moraes. Como se as decisões do magistrado não fossem respaldadas pela maioria dos colegas do Supremo Tribunal Federal. Levitsky diz que, ao contrário do que pensa Bolsonaro, “as instituições democráticas” têm de “fiscalizar o poder dos presidentes. Os ataques ao Judiciário costumam ser o primeiro passo dos autocratas para tentar ficar no poder. Minha esperança é que, no caso brasileiro, Bolsonaro não tenha força para transformar palavras em ação”. O mestre americano não diz, mas o 7 de setembro foi um passo adiante, uma ação antidemocrática efetiva e autoritária.
Na entrevista, Levitsky não fala em impeachment de Bolsonaro — o presidente que planeja decretar o impeachment da democracia. Mas comenta: “Destaco que processos de impeachment como vimos com Collor e Dilma são melhores do que golpes militares como em 1964”. Hoje, com a Câmara dos Deputados controlada por um aliado de Bolsonaro, Arthur Lira, uma das figuras emblemáticas do Centrão — ainda que seja um político de segunda linha —, o impeachment é praticamente impossível. Sem contar que, com 6 mil militares no governo federal — alguns com rendimentos que superam 100 mil reais (e até mais) por mês —, não é fácil cassar um presidente como Bolsonaro.
O 7 de setembro, com Bolsonaro propondo um golpe, diretamente ou por meio de seus epígonos — vale sugerir que, em termos de pesquisas eleitorais, o presidente está bem atrás do ex-presidente Lula da Silva, que, se a eleição fosse hoje, poderia ser eleito no primeiro turno —, coloca, mais uma vez, o Brasil como pária internacional. “A imagem do Brasil como uma democracia de sucesso certamente foi manchada pela Presidência Bolsonaro. Mas espero que ela se recupere depois que Bolsonaro for derrotado.” Como se vê, o doutor de Harvard é otimista. O quase-golpe de 7 de setembro — ainda que seja um golpe mignon — significa que Bolsonaro sabe que pode perder a eleição em 2022 e, por isso, está em busca de um caminho para contornar a democracia.
“As Forças Armadas são uma instituição muito mais confiável do que a classe política e os partidos estabelecido. Isso não é um bom presságio para a democracia”
Levitsky postula que “os políticos democráticos perderam a confiança pública” — em larga escala, devido os desmandos éticos dos governos petistas, o que o professor de Harvard não diz — e que “as Forças Armadas são uma instituição muito mais confiável do que a classe política e os partidos estabelecidos. Isso não é um bom presságio para a democracia”.
Levitsky sugere que, “diante de ameaças como Bolsonaro, é essencial que os políticos democráticos se unam em uma frente comum em defesa da democracia. Para garantir a sobrevivência da democracia, deveria se formar uma ampla coalizão, do PT à centro-direita, por um único candidato — provavelmente Lula, que hoje lidera as pesquisas — já no primeiro turno das eleições de 2022. Para garantir que Bolsonaro sofra uma derrota massiva e não possa alegar fraude. Mas sei que é pedir muito. Para construir tal coalizão, Lula e o PT teriam que fazer concessões significativas, na economia e na Justiça, aos partidos de centro e centro-direita”.
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