Em entrevista, Giovani Feltes, secretário da Fazenda do Estado, afirma que é necessário um equilíbrio financeiro e fiscal, "ao ponto de voltarmos a ter recursos para fazer investimentos e estabelecer políticas que possam induzir o crescimento". Confira na entrevista, a seguir.
RS e RJ despontam como Estados com as piores crises econômicas do país
“Uns caem primeiro, outros depois, mas cairemos todos”, afirma Julio Bueno
Há mais semelhanças ou diferenças entre as crises do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro?
Mais diferenças. A crise do Rio apareceu mais claramente nos últimos meses, fruto da retração econômica no Brasil e da queda do preço do barril do petróleo. Eles perdem duplamente: nos royalties e no ICMS. Aqui, também temos problemas conjunturais em razão do quadro recessivo da economia brasileira. Os repasses federais e a receita reduziram, mas o nosso maior problema é estrutural. O endividamento público está além do limite, temos o excessivo custo da folha diante da receita e a questão previdenciária.
Entre os dois Estados, qual a situação mais dramática?
Difícil avaliar. Gostaria de estar disputando o Estado com maior equilíbrio fiscal e com mais capacidade de investimento, mas esse não é o mundo real que enfrentamos em 2015. O mundo real é de que nossa situação deve ser pior, eu diria bastante pior, considerando alguns dados: temos 54% de inativos. O segundo lugar com mais inativos é São Paulo, que tem 27%. Já ouvi diversos secretários de Estado dizerem: "Somos o Rio Grande de amanhã". Eles reconhecem o desequilíbrio que o Estado vem enfrentando.
Nos dois Estados houve atraso e parcelamento de salários. Por que acaba ocorrendo essa opção drástica?
E teria alternativa? A folha é disparadamente a nossa maior despesa. Economizamos mais de R$ 1 bilhão este ano. Não dá para cortar mais. Seria não pagar a merenda e o transporte escolar, a comida dos presos, os hospitais e os seus convênios, o combustível da segurança pública. Temos 30 decisões judiciais que nos obrigam a pagar salários. Alguém descumpriria tendo multas pesadíssimas? Alguém deixaria de pagar a folha porque quer? Óbvio que não. E provo isso: a primeira opção do governo para não atrasar salários, quando já não tinha dinheiro para todas as contas, foi deixar de pagar dívida com a União.
Por que o Rio conseguiu ajuda federal para colocar dinheiro na saúde e o RS não consegue o mesmo socorro junto à União? O PMDB do Rio é mais próximo da presidente Dilma Rousseff?
No caso do Rio, a saúde pública foi altamente impactada, mais do que aqui. A prefeitura do Rio disponibilizou recursos de forma mais imediata para auxiliar. A União ajudou com materiais, remédios, mas em termos de dinheiro, até onde sei, não foi algo significativo. Ficou na casa dos R$ 150 milhões. Está muito longe de resolver os problemas da saúde de qualquer Estado.
No Rio, a opinião majoritária é de que a saída da crise passa pelo fim da "óleo dependência", com a economia encontrando novas potencialidades. E no caso do Rio Grande do Sul?
Precisamos de equilíbrio financeiro e fiscal, ao ponto de voltarmos a ter recursos para fazer investimentos e estabelecer políticas que possam induzir o crescimento. Isso leva tempo. Por outro lado, o Rio Grande do Sul terá de ser ágil e ousado nas concessões à inciativa privada, permitindo que recursos irriguem a economia nesse período em que o Estado se encontra tão fragilizado
