![Paulo Germano: Danrlei, o amigo de Jardel Paulo Germano: Danrlei, o amigo de Jardel](http://zh.rbsdirect.com.br/imagesrc/17804521.jpg?w=1024&h=768)
<P>Pedi licença a <STRONG> <STRONG>Jardel</STRONG> </STRONG> e chamei meus colegas num canto:</P> <P>— Temos que pegar leve.</P> <P>Em cinco minutos, iniciaríamos a famosa <STRONG> <STRONG>entrevista dele ao La Urna</STRONG> </STRONG>. Havia uma armadilha ali: nunca, em 10 anos de jornalismo, tinha deparado com alguém tão frágil, o que era um problema. Candidato a deputado, Jardel parecia carregar um novelo no lugar da língua, de tanto que se enrolava. Mantinha um olhar apático, suspirava com certa aflição e, quando dirigiu-se à atendente do bar de Zero Hora, ninguém entendeu o que pedia.</P> <P><STRONG> <STRONG>Leia outras colunas de Paulo Germano</STRONG> </STRONG></P> <P>— Não tem condições de dar entrevista — avaliou Gustavo Foster, um dos repórteres.</P> <P>Não poderíamos ser muito duros. Se fôssemos implacáveis, se houvesse um pingo de deboche na conversa, nos transformaríamos em vilões, e Jardel, em vítima. Seríamos chamados de canalhas prevalecidos, ainda que questioná-lo fosse nossa obrigação.</P> <P><STRONG>Relembre a entrevista de Jardel ao La Urna:</STRONG><BR> </P> <P>Encerrada a conversa, voltamos a postos. E Jardel protagonizou a entrevista mais bizarra já concedida por um candidato a cargo eletivo na história do Brasil. Um fenômeno de audiência até fora do país. Três semanas depois, o inimaginável: ele seria eleito com 41 mil votos — e uma bola de culpa se instalaria na minha goela. Teria eu contribuído para a eleição daquele homem? Teria a nossa entrevista influenciado eleitores a votarem em Jardel, talvez por misericórdia a um ídolo decadente ou por deboche à classe política?</P> <P>Corta para esta semana.</P> <P>O deputado federal Danrlei, que apadrinhou a candidatura de Jardel no PSD, <STRONG> <STRONG>é entrevistado</STRONG> </STRONG> no programa Timeline , da Rádio Gaúcha. Lá pelas tantas, Danrlei solta uma declaração que me faz levantar da cadeira, apertar os olhos e abrir a boca enquanto aumento o volume do rádio:</P> <P>— O que fiz por ele, faria por qualquer outro amigo.</P> <P>Não pode ser verdade, penso eu. Mas Danrlei prossegue, em um tom de voz ponderado, enfatizando que sua "consciência está tranquila" porque "jamais imaginaria algo assim".</P> <P>Deputado, com todo o respeito, mas um de nós enlouqueceu completamente. Como é possível eu me sentir culpado por ter entrevistado o candidato mais despreparado de todos os tempos enquanto o senhor, que fez intensa campanha para ele, mantém a consciência inabalada? Tanta gente votou nele porque o senhor pediu, deputado.</P> <P>E sobre isso de ajudar um amigo: lembro que um grande amigo queria trabalhar aqui na Zero, mas com muita educação precisei demovê-lo da ideia, já que esse amigo, infelizmente, não atenderia às exigências da vaga. O que evitei fazer com a empresa na qual trabalho — indicar um mau funcionário apenas por ser meu amigo — o senhor fez com a sociedade, deputado. E o senhor é <STRONG> <STRONG>pré-candidato a prefeito</STRONG> </STRONG> de Porto Alegre, deputado! Como posso confiar em um prefeito que, na política, ajuda qualquer amigo apenas por ser amigo, deputado???</P> <P>— As pessoas vão dizer que a culpa é minha — previu o senhor na Gaúcha, sugerindo uma injustiça.</P> <P>O senhor eu não sei, mas eu, que ainda me sinto culpado, vou me dirigir à sociedade e fazer o que ainda espero do nobre deputado: pedir perdão. Se de alguma forma aquela entrevista contribuiu para a eleição de Jardel, por favor, me desculpem.</P> <P> <STRONG>Leia as últimas notícias de Zero Hora</STRONG> </P>