Chamou-me a atenção uma reportagem de autoria da jornalista Isabella de Paula, na “Gazeta do Povo”, no dia 25 do mês passado, sobre a fome em Cuba. Cuba tem um imenso atrativo: quanto mais se afunda na falta de liberdades, no fracasso econômico, na incapacidade de reagir, na miséria social, menos a esquerda latino-americana, a nossa sinistra, consegue enxergar a realidade à sua frente, e mais admira seu regime ditatorial.
Dados apresentados (entre outros) pela jornalista: 89% da população cubana vive hoje em extrema pobreza; 72% do povo cubano vive na escassez alimentar; apenas 15% dos cubanos conseguem fazer as três refeições diárias; um terço dos cubanos que necessitaram de medicamentos não os conseguiram por falta ou por preços elevados e só 2% desses remédios são encontrados nas farmácias do governo.
A falta de energia elétrica e os apagões afetam mais da metade da população. Além do que está na reportagem, os transportes públicos são insuficientes e não cumprem os horários estabelecidos.
A jornalista não compôs sua matéria por ouvir dizer e nem se baseou em fontes aleatórias. Baseou-se em uma enquete sigilosa feita pelo Observatório Cubano de Direitos Humanos (OCDH), uma organização sem fins lucrativos, fundada em 2010, e sediada na capital espanhola, Madrid.
A pesquisa ouviu 1.148 pessoas, amostra bem expressiva, levando em conta a população da ilha (11 milhões). Dessas pessoas, 91% desaprovam o regime comunista em que vivem, e 89% detestam o sistema de saúde cubano, que os esquerdistas brasileiros, que nunca precisaram dele, afirmam ser excelente. No início deste ano, o próprio Miguel Díaz-Canel, o ditador fantoche de Cuba (quem manda ainda é Raul Castro, irmão de Fidel) declarava que ao menos 70% da renda familiar cubana era consumida pela alimentação. Até o ditador faz-de-conta reconhece o fracasso comunista.
Mas Cuba não foi sempre um país atrasado? Perguntaria algum leitor menos avisado. Não, absolutamente — é a resposta.
Cuba foi o primeiro país, em toda a América Latina, a ter iluminação pública (em 1889), a ter transporte público elétrico (em 1900), a receber um automóvel, a instalar um aparelho de Raios-X (ainda em 1908) e a ter ferrovias. Foi o primeiro país no mundo a ter um hotel com ar-condicionado (Hotel Riviera, em Havana, 1957).
Em 1958, foi inaugurada a TV em cores na ilha, algo que só viria a acontecer no Brasil em 1972, década e meia depois. No começo do século XX, Cuba já era um grande exportador de açúcar, e em meados do século, era o maior exportador mundial. Era, desde o século XIX, até o final da década de 1950, um país de vanguarda. O PIB per capita cubano, nessa época, superava o de muitos países europeus.
Mas, para fazer a miséria, para criar o infortúnio de milhões, basta um tirano, com pouco ou nenhum caráter e muita ambição. Para interromper a história feliz de Cuba, viriam dois tiranos. Um chamava-se Fulgêncio Batista, de direita. O outro, Fidel Castro, de esquerda. Qual o pior? Só apresentamos fatos. Tire o leitor suas conclusões.
Fulgêncio Batista (1901-1972), militar, participou de um golpe de Estado, chamado Revolta dos Sargentos, em 1933, que depôs o presidente Carlos Céspedes e o substituiu por uma junta governativa.
Fulgêncio Batista passou a comandar as Forças Armadas, e em 1944 se elegeu presidente. Governou em coalisão com os comunistas cubanos e apoiou os aliados na Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O candidato de Fulgêncio Batista à sucessão foi derrotado, em 1948, e ele se mudou para a Flórida, nos EUA. Em 1952, às vésperas das eleições em que era novamente candidato, aproveitou-se de sua penetração nas Forças Armadas, deu um golpe e tornou-se ditador.
A economia cubana era então fervilhante, e a prosperidade era grande. Batista Fulgêncio aproveitou para se enriquecer pela corrupção, enquanto endurecia o regime e sufocava com sangue qualquer oposição.
O golpe de Fidel Castro em 1959
Mas sua ditadura durou pouco: um movimento popular, liderado por Fidel Castro, então um estudante de Direito, a que logo se engajaram vários segmentos da população, inclusive das Forças Armadas, depôs Fulgêncio Batista em 1958, que fugiu para a República Dominicana. Teria levado consigo 40 milhões de dólares, hoje equivalentes a 400 milhões. Morreu na Espanha, de causas naturais, em 1972.
Fidel Castro (1926-2016) assumiu o poder no início de 1959, quando depôs Fulgêncio Batista, prometendo pacificar e democratizar o país.
Mas começou por, acolitado por seu companheiro Che Guevara, fuzilar centenas de auxiliares de Fulgêncio Batista, em julgamentos sumários, no que ficou conhecido por “el paredón”.
O mundo vivia a Guerra Fria, e Fidel Castro, dois anos depois, deu uma guinada, aliando-se à União Soviética e proclamando em Cuba uma república comunista.
O regime persiste até hoje, mais de seis décadas passadas, período em que o país continuamente empobreceu, a ponto de, atualmente, apresentar um PIB per capita só maior, nas Américas, que o do arrasado Haiti.
Ainda na Guerra Fria, Cuba era socorrida pela URSS, que lhe enviava petróleo, que era vendido para gerar divisas de que o país necessitava, pois vivia fracasso econômico e queda na produção de açúcar, seu principal produto de exportação.
Com o esfacelamento da União Soviética, a crise cubana se agravou, embora alguns socorros de regimes de esquerda (como da Venezuela e do Brasil) tenham ocorrido.
A ditadura cubana culpa os Estados Unidos e seu embargo pelo insucesso, algo em que só esquerdistas fanáticos acreditam. O presidente Lula da Silva e a ex-presidente Dilma Rousseff, por exemplo, proclamam essa inverdade, embora eles mesmos tenham praticamente doado 1 bilhão de dólares nossos para a ditadura cubana, sem que o tal embargo em nada afetasse esse esbanjamento com dinheiro do povo brasileiro.
Apenas nos últimos quatro anos quase 10% da população fugiu da ilha, principalmente para os EUA. Os que ficaram vivem privados de liberdade, e de mínimas condições de alimentação, saúde e infraestrutura. A próspera Cuba de outrora é hoje uma ilha de mendigos.
Mas os delírios esquerdistas não cessam. Lula da Silva declarou, em Paris, em 2021, que o único país latino-americano a dar um salto, a conceder cidadania e dignidade a seu povo, era Cuba. São quase 24 mil dias de ditadura comunista em Cuba. Em nenhum desses dias houve sequer um fato positivo que pudesse respaldar a fala lulista. Perigoso desvario.
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