Carlos Madeiro, Uol
Cientistas brasileiros vão fazer uma tomografia sísmica para avaliar o que causa terremotos profundos na placa de Nazca sob a Amazônia Ocidental.
O objetivo do estudo inédito, que reúne oito instituições e é coordenado pelo Laboratório Sismológico da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), é detalhar a estrutura e descobrir a origem desses terremotos, que ocorrem entre 550 km e 650 km abaixo do solo na região.
Para fazer a tomografia, uma rede está sendo montada com 20 sismógrafos. Esses eventos são particularmente interessantes porque, devido às diferentes condições de pressão e temperatura nessas profundidades, o mecanismo físico por trás desses terremotos profundos não pode ser semelhante ao dos terremotos rasos.
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“Esses terremotos são um fenômeno bem intrigante, pois não deveriam acontecer nessas profundidades. Há apenas uma dúzia de zonas no planeta com esse tipo de terremoto”, destacou Jordi Julià Casas, pesquisador do Departamento de Geofísica da UFRN.
Jordi explica que existem trabalhos em escala continental que estudam essa área, mas todos em resolução baixa. “Com essa rede queremos obter imagens da estrutura profunda dessa zona para testar hipóteses sobre os mecanismos geradores”, afirma.
Ele explica que essa região tem uma atividade sísmica intensa por conta de sua proximidade com a zona dos Andes, onde há colisão de placas tectônicas —que gera terremotos mais fortes.
Essa área, cita, é a que registra terremotos de maior magnitude no país, mas por conta de sua grande profundidade, não são destrutivos. “Alguns são perceptíveis [na superfície]. Tem terremoto profundo de magnitude 7,5, e o Acre e até outras partes do país percebem”, diz.
Foi nessa área que o Brasil registrou, no último dia 20 de janeiro, o maior terremoto já registrado no país, que atingiu magnitude 6,6 graus na Escala Richter. O epicentro foi no município de Tarauacá (AC), a 614,5 km de profundidade.
Segundo Romero Pinheiro, do Laboratório de Geofísica Aplicada da Ufac (Universidade Federal do Acre), a atividade sísmica dessa região está diretamente relacionada ao limite das placas de Nazca e da América do Sul.
“O interessante é que existe uma hipótese que ocorre um mergulho quase vertical [da placa de Nazca] na Amazônia Ocidental, um pouco ao norte do Acre. O ponto de dissipação de energia é bastante profundo, e o terremoto gerado tem característica única em nível mundial”, revelou Romero Pinheiro.
Ele afirma que é impossível cravar que a região está imune a terremotos de maior magnitude e cita o tremor de 1994 na Bolívia, que atingiu 8,4 graus na escala Richter e foi sentido em muitas cidades acreanas. “Não temos sistema de previsão do terremoto como ocorre na meteorologia”, lembra.
“Foi um tremor profundo, então veja que são imprevisíveis as consequências mesmo para um evento desses. Eu era criança e lembro da casa ‘balançando’, e utensílios domésticos caindo no chão”, relatou Romero Pinheiro.
O projeto está sendo financiado com recursos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e com apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estudos Tectônicos.
Quando concluído, o estudo deve ajudar as defesas civis a se prepararem para enfrentar possíveis terremotos expressivos, “com planos de evacuação, estratégias de resposta e medidas de segurança com base nas informações sísmicas disponíveis.”
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