Os jingles de campanha fazem parte de uma série de estratégias dos candidatos para “colar” seu nome, seus feitos e sua capacidade de administrar na mente do eleitorado. Além disso, esses jingles são feitos, na maioria das vezes, por meio de paródias de músicas famosas e já conhecidas por serem “chicletes”. Em outras palavras, essas músicas trazem um pouco das histórias dos candidatos, das suas personalidades, formas de agir e pensar, os assuntos que essas campanhas acham mais relevantes para o debate público e, claro, cutucadas nos adversários.
Por outro lado, tão importante quanto as letras e as mensagens contidas nas músicas, o ritmo também é fator crucial para embalar as campanhas. Os arranjos dos jingles darão o compasso para animar os apoiadores e também para mantê-los empolgados durante os eventos de campanha. À reportagem teve acesso aos jingles de todas as campanhas, exceto o do candidato do Unidade Popular, Professor Pantaleão, que até o momento não tem um material musical para esta campanha.
Especialista em marketing político e pós-graduado em branding, Pedro Ernesto Carneiro, explica que três pontos cruciais precisam ser contemplados nesse instrumento de campanha. “É preciso trabalhar bem a memória do nome e do número de do candidato, além da reputação e a estima. Precisa também lembrar as pessoas do que foi feito e trazer ainda o que será feito, as propostas e algo que o eleitor possa esperar”.
Além da necessidade aspiracional, esclarece Carneiro, as campanhas também tem uma necessidade identitária com o eleitor. “A gente tem esse necessidade de fixar e ser lembrado, mas é preciso também pensar no vínculo. As vezes é preciso fazer dois jingles para cobrir esses objetivos”, relata.
À reportagem convidou Pedro Carneiro para ouvir e avaliar tecnicamente cada um dos jingles dos candidatos à Prefeitura de Goiânia. Ele discorre que a campanha eleitoral é classificada em quatro fases: construção da reputação, criação da estima, comparação e a consolidação. Essas características também estão presentes nos jingles e nas estratégias de marketing dos candidatos.
Sobre o jingle de Adriana Accorsi (PT), Carneiro explica que a estratégia da candidata trouxe uma voz e musicalidade que são marcas de campanhas como a de Iris Rezende e Vanderlan Cardoso. “Por ser uma voz que já foi usada em outras campanhas, isso pode ser bom para um reconhecimento afetivo, mas pode ser uma perda de oportunidade de criar uma identidade própria”, relata.
Além disso, a campanha de Adriana Accorsi (PT) traz uma proposta mais afetiva, avaliou Carneiro, destacando o arquétipo de mãe e o perfil cuidador, social e que conversa com o tradicional eleitor do PT. No entanto, Carneiro sugere que, se ela quiser falar com um público diferente, ela precisará ser mais objetiva. Em outras palavras, o nome da candidata já tem um reconhecimento, mas agora serão as propostas e o que ela tem a oferecer que poderão levá-la mais adiante.
O jingle de Fred Rodrigues (PL), por outro lado, destaca-se pelo uso eficaz do instrumental, além de ser uma música “para cima”, que ajuda na memorização do nome do candidato. Além disso, o nome aparece com frequência e logo no início, o que é essencial para um candidato que ainda precisa ser mais conhecido. Entretanto, Carneiro menciona que a música peca por não apresentar propostas ou valores do candidato, elementos fundamentais para a criação de um vínculo mais forte com o eleitorado.
A música de Rodrigues também se conecta com o candidato pela cadência. Ambos, música e candidatos, estão em ritmo acelerado. “Os jingles assimilam de acordo com a personalidade do candidato, com a forma como ele pensa e com a sua maneira de agir”, comenta. Como ponto negativo, Carneiro cita que não há apresentação de propostas, capital político e valores do candidato.
Em seguida, Sandro Mabel (UB) apresenta um jingle que trabalha o sentimento de nostalgia e o vínculo com o MDB e o governador Ronaldo Caiado (UB) como aliado político. Entretanto, Carneiro avalia que, embora o sentimento seja bem captado, há uma demora na associação desse sentimento ao candidato, o que pode ser prejudicial. Por outro lado, essa estratégia de capturar emoções crescentes antes do refrão “chiclete” tem sido usada com sucesso por outros candidatos.
O ponto negativo, no entanto, é a demora para a apresentação do nome e do número do candidato, avalia. “Ele capta bem os sentimentos das qualis, mas demora muito para associar esse sentimento ao candidato. E como tem muitas campanhas que estão se apropriando desse sentimento, você pode achar que o jingle é dele ou de outro candidato porque as campanhas estão tentando capturar também”, indica.
O ritmo do jingle escolhido por Matheus Ribeiro (PSDB) lembra uma baladinha, um sertanejo mais melódico, avalia Carneiro. “Embora tenha essa proposta do estilo musical, a letra são é muito objetiva e ela fica muito fria. A música cita apenas os objetivas de campanha e isso esfria um pouco e acaba ficando chato”, pontua.
Outra análise é sobre o volume de informações que a letra traz. “Ele peca por não colocar nada emotivo, não tem nada que passe emoção e isso fica frio e cansativo. Ele também não trabalhar eficiência para memorizar o nome e o número”, sinaliza.
O jingle de Rogério Cruz (SD) tem o melhor aproveitamento da sonoridade e do instrumental, com uma música que não cansa e que conduz de um lugar a outro, avalia o especialista. “A premissa que foi muito bem acertada no jingle é a questão de valorizar o trabalho. Quando você tem um valor que quer ser trabalhado politicamente, você tem que apresentar uma frequência daquilo para se tornar um reconhecimento, uma imagem”, classifica.
Como ponto negativo, Carneiro diz que o jingle é uma música “coringa”, mas que outras versões mais emotivas devem ser lançadas para trabalhar captar o sentimento do eleitorado. “Na primeira etapa da eleição, o eleitor avalia racionalmente os candidatos, é um momento que ele está com certas ressalvas. Depois de um certo tempo, ele vai quebrando essa resistência e vai criando vínculos afetivos com os candidatos”, comenta.
Vanderlan Cardoso (PSD) traz o único jingle que não traz o sertanejo como inspiração, com destaque para a facilidade de memorização e o ritmo dançante. “Ele tem um grande potencial para memorização porque simplifica, vai pela simplicidade e o estilo dançante impregna”, avalia. Outra característica levantada por Carneiro é que o ritmo traz uma marca mais cômica, mais descontraída.
Apesar das vantagens, o jingle peca por não trazer o identitarismo com a população goianiense e a falta de afetividade da canção. “Eu acho que a estratégia de campanha seja errar menos, ser mais simples até no jingle pois ele está flertando com os primeiros colocados e por isso tem medo mais medo de pecar”, comenta.
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