Confinamento. Quarentena. Prevenção.
Muita gente não está nem aí.
Mas Bruno e Clarinha levavam a pandemia a sério.
-Vírus aqui não entra.
A empregada Lucimar também não.
-Vem de ônibus? imagine.
-Chega aqui contaminada.
-Deixa ela ficar em casa.
-A gente continua pagando o salário direitinho.
A classe média, por vezes, apresenta altos padrões de consciência social.
Mas um problema persiste.
Quem ia fazer a faxina?
-É a sua vez, amor.
-Não. É a sua, Clarinha.
Ácaros. Mofo. Fuligem.
A sujeira ia se acumulando.
Clarinha deu um suspiro.
-Quer saber? Não aguento mais.
Bruno nem respondeu.
O casal estava sem se falar havia vários dias.
Lucimar foi convocada para dar uma geral.
-Só dessa vez.
-Só o básico.
A funcionária chegou em silêncio.
Passou o dedo sobre a superfície do fogão.
Inspecionou as prateleiras.
Olhou de longe algumas panelas.
-Que nojo. Que descuido.
Seu olhar era severo.
-Vocês dois são uns porcos.
O gesto dela foi decidido.
-Nunca pensei que fossem me decepcionar tanto.
Lucimar levantou o queixo.
-Estão dispensados. Passem bem.
É no calcanhar sujo que entram as sandálias da humildade.
Leia mais (08/09/2021 - 10h00)