Os abraços e beijos das tradicionais reuniões de Natal e Ano Novo agora dão lugar a ligações de vídeo e distanciamento social
Servidora pública e professora, Maria Tereza Tomé, de 44 anos, moradora de Goiânia, quebrou uma longa tradição neste fim de ano. Maitê, como é conhecida, nunca havia passado um Natal longe dos pais, que vivem no município de Caldas Novas, município a 180 quilômetros de Goiânia, até este ano. A servidora decidiu celebrar o Natal e o Ano Novo em casa pelo mesmo motivo que levou milhões no Brasil e no mundo a tomarem a decisão: a pandemia de um vírus que, só no Brasil, já matou mais de 190 mil pessoas.
Não foi uma decisão fácil. De acordo com Maitê, ela jamais havia passado essas datas, conhecidas por reunir famílias que, às vezes, passam o ano todo afastadas, longe dos pais. No entanto, foi preciso. “Resolvi ficar em casa e não fui para casa dos meus pais para protegê-lo”, diz a professora, cujo padrasto e mãe têm 70 anos e o pai, 80 – os três dentro do grupo de risco da covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus.
A reunião de Natal de Maitê se resumiu a ela e sua filha que, inclusive, já foi infectada pelo Sars-CoV-2 e conseguiu se recuperar. Além dos pais, a professora também deixou de encontrar suas duas irmãs, que também vivem em Caldas Novas. Contudo, a distância não impediu que Maitê pudesse celebrar o Natal, mesmo que longe, de sua família.
Os sorrisos, as novidades e as gargalhadas que seriam trocados pessoalmente acabaram sendo transmitidos por uma ligação de vídeo, que contou com a participação de suas irmãs, sua mãe, filha e sobrinhas. “Pensei que seria pior, mas não foi tão ruim”, comenta.
Questionada, Maitê afirma sem hesitar que tomou a decisão correta ao passar as festas de fim de ano de forma remota, mesmo com a reação negativa de alguns. “Muitas pessoas ficaram com raiva de mim, em especial agora. Não entendem a postura de ficar. Seria mais fácil estar com eles, mas o que fiz foi por amor”, pontua.
“Acho que todos estão exaustos e um pouco sem esperança, mas não justifica colocar os outros em perigo. Acredito temos que evoluir muito. Essa pandemia mostrou que precisamos melhorar muito para sermos considerados humanos. Ainda somos muito egoístas e imediatistas”, completa Maitê.
Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou a pandemia do novo coronavírus, a jornalista goiana Thaynara Cunha, de 25 anos, teve que alterar radicalmente sua rotina. Além do trabalho remoto, o famoso home office (regime que só recentemente a jornalista deixou), Thaynara também aderiu à privação do convívio com todos os amigos e familiares que, antes da circulação do vírus da covid-19, eram tão presentes.
Até com o noivo, que mora com a mãe idosa, Thaynara decidiu reduzir o contato. “Acho que desde março [período de início da pandemia] só vi meu noivo umas cinco vezes. Nesse período de pandemia eu cortei geral [o contato presencial com a família], nem meus parentes de Goiânia eu estou vendo”, revela. Com a festas de fim de ano, a situação não seria diferente.
Após um longo período de indecisão, Thaynara, que está em recesso no trabalho, decidiu ir para o município de Jandaia, a 120 quilômetros de Goiânia, para passar o Natal e Ano Novo com a família. No entanto, ao contrário dos anos anteriores, quando festas com aglomerações, beijos e abraços ainda não eram sinônimo de preocupação e receio, as festas de fim de ano com seus pais e irmãos serão bem atípicas.
“Foi uma decisão muito difícil, porque eu sou muito preocupada justamente com essa questão do isolamento social, porque desde o início eu me privei de todo mundo”, diz.
Conforme a jornalista, o pai, de 51 anos, a mãe, de 45, e o irmão, de 19 anos, estão em uma quarentena rígida desde o mês de março. Os três vivem numa chácara na zona rural de Jandaia e estão completamente isolados, seguindo à risca as medidas de distanciamento. As saídas, segundo Thaynara, se limitam ao essencial, como idas ao supermercado, banco ou farmácia.
A ida de Thaynara, que não vê os pais desde março, para a chácara da família foi pensada com cuidado. Segundo ela, por uma semana os cuidados, que já existiam, foram redobrados – e vão continuar. “Nos primeiros 15 dias na chácara, vou ficar mais afastada da minha família. Dormir num quarto diferente e ficar de máscara quando estiver perto deles, tirando só pra comer”, revela.
Thaynara recorda que esses mesmos cuidados viraram rotina. Ela ressalta uma ocasião em que o avô teve que se hospedar em sua casa, em Goiânia, em agosto deste ano, em razão de uma cirurgia que a qual se submeteu. “Eu tive que ficar com ele pra ele não poder ficar sozinho. Nesse período em que ele ficou na manha casa, eu ficava de máscara o tempo inteiro. Pretendo repetir esse comportamento”, revela Thaynara, que contou usar o item de segurança no rosto até para dormir.
A jornalista não vê com bons olhos o fenômeno de flexibilização das medidas de segurança por uma parte da população, e diz que o desrespeito ao distanciamento e ao isolamento chega a ser refletido como uma carência de amor ao próximo.
“Vejo comentários de pessoas na internet e parece que alguns simplesmente não têm mais empatia, não tem mais preocupação pelo próximo. Há uma segunda onda já em meio à uma alta que não teve queda [de contaminação pelo coronavírus], e tem pessoas que não se importam”, finaliza.
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