A rigorosa seca que afetou todo o Estado de São Paulo chegou em proporções ainda maiores na cidade neste mês. Nesta quarta-feira (6), será iniciado o rodízio que afetará todas as regiões do município e deixará a população sem água por treze horas diárias.
O professor da área de recursos hídricos da UFSCar e membro do Comitê de Bacia Hidrográfica Sorocaba e Médio Tietê, André Cordeiro, alerta que, de 2015 até agora, nenhuma medida efetiva foi tomada para evitar novas interrupções no fornecimento de água.
Entre os anos de 2014 e 2015, houve um longo período de estiagem, ocasionando rodízio no abastecimento de água para algumas regiões de Sorocaba.
Segundo Cordeiro, o crescimento desordenado na cidade, a falta de reservatórios e a inexistência de estímulo para que a população use cisternas para captação de água de chuva, agravaram a situação.
“Vemos a cidade passiva diante de um problema que só se agrava. As pessoas só falam em recursos hídricos quando há falta de água”, critica.
O especialista destaca que Sorocaba segue sendo muito dependente da Represa de Itupararanga, hoje responsável por 82% do abastecimento total. “Vivemos um período de seca, muita água é desperdiçada para a produção de energia e a qualidade da água diminui a cada dia”, destaca o professor.
Segundo a Votorantim Energia, responsável pela gestão do manancial, atualmente, o nível da represa é de 50%, o que é considerado normal.
Conforme o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), a situação é muito crítica nos outros três mananciais, que juntos, são responsáveis pelos outros 18% do abastecimento.
Conforme a autarquia, a represa de Ipaneminha está apenas com 2% de água. Ela é utilizada como complemento no abastecimento de água bruta da Estação de Tratamento de Água (ETA) Cerrado.
Já as represas Castelinho e Ferraz, que atendem à região industrial, como Éden, Cajuru e Aparecidinha, estão com 8%.
Cordeiro explica que o desabastecimento ocorre pela falta de planejamento, não só da autarquia, mas também do Poder Público como um todo, já que plano diretor do município liberou dezenas de novos loteamentos em áreas extremas da cidade.
“Sorocaba já vive em déficit de água e é uma conta que não fecha. Mais residências e a mesma quantidade de água fornecida. Obviamente vai faltar e ninguém pode falar que isso é uma surpresa”, afirma.
Ele aponta que critérios mais rígidos para implantação de novos condomínios, como obrigatoriedade de captação de águas de chuvas, poderiam amenizar a situação.
Outra medida que tornaria o sistema hídrico mais saudável seria o incentivo para que a população passasse a instalar cisternas em casa. “Poderiam dar algum benefício, como desconto no IPTU, para o cidadão que contribuísse, mas é difícil exigir isso se nem mesmo prédios públicos captam água da chuva.”
Hoje, embora toda a rede seja interligada, Cordeiro afirma que por ser muito extensa, vazamentos são comuns e de difícil identificação.
“É preciso investir em um sistema de monitoramento e reparo mais eficiente, assim como um tratamento que dispense menos água e a instalação de mais reservatórios”, avalia.
Atualmente, afirma o pesquisador, 40% da água são desperdiçados antes de chegarem até as torneiras; e esse número poderia ser reduzido para 20% caso métodos mais modernos fossem adotados.
Para o engenheiro Geraldo de Moura Caiuby, que já foi diretor-geral do Saae, a situação de seca afeta todo o País. Ele, porém, está confiante de que as equipes da autarquia, contando com a colaboração da população, conseguirão resolver o problema de desabastecimento. “Há muita capacidade técnica e nos próximos dias há previsão de chuva, colocando fim nessa situação”, avalia.
Questionado sobre meses que tendem a ser ainda mais quentes, como janeiro e fevereiro, Caiuby lembrou que nesses períodos as chuvas costumam ser mais volumosas. “O consumo fica mais alto, mas não falta chuva”, aponta.
Mesmo com as temperaturas chegando a 28ºC nesta quarta-feira (6), a previsão é de chuva na cidade. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), até domingo deve chover todos os dias.
Além da crise hídrica que afetou todo o Estado nos meses de dezembro de 2014 e janeiro de 2015, Sorocaba já viveu outros momentos de falta de água, mas por problemas técnicos. Nos anos de 2002, 2004 e 2017, os sorocabanos sofreram com o desabastecimento causado por rompimentos de adutoras.
Na tarde de segunda-feira, o diretor geral do Saae, Mauri Pongitor, destacou que até o final deste ano começará a operar a quarta adutora de água bruta de Itupararanga.
“A hora que a gente colocar em carga, dará um reforço”, diz. O aumento da capacidade será de 18%. Ele ainda lembrou da implantação da Estação de Tratamento de Água do Vitória Régia, que vai captar do rio Sorocaba, prevista para iniciar as operações em 2020.
A explicação da autarquia para o desabastecimento, mesmo com a represa de Itupararanga operando com 50% de sua capacidade, é de que em dias de muito calor o consumo de água aumenta até 25%. Esse consumo, de acordo com o Saae, somado ao déficit de 18% causado pela seca nos outros três reservatórios, reduz a capacidade de abastecimento quase pela metade. (Larissa Pessoa)
O post Falta de planejamento pode ser uma das causas do rodízio de água apareceu primeiro em Jornal Cruzeiro do Sul.