Até se tornar definitivamente um cão-guia, o animal passa por diversas fases em sua vida. No Instituto Magnus, esses processos são muito bem definidos para que tudo ocorra da melhor forma possível durante a sua formação. Porém, a questão do “apego” é sempre levantada por pessoas que têm interesse no assunto, seja o apego por […]
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Até se tornar definitivamente um cão-guia, o animal passa por diversas fases em sua vida. No Instituto Magnus, esses processos são muito bem definidos para que tudo ocorra da melhor forma possível durante a sua formação.
Porém, a questão do “apego” é sempre levantada por pessoas que têm interesse no assunto, seja o apego por parte dos cães, ou pelos participantes desse processo, como veterinários, instrutores, ajudantes de canil e as próprias famílias socializadoras.
O instrutor George Thomas Harrison esclarece que a questão do apego é muito bem trabalhada pelos profissionais do Instituto Magnus. Ele explica que os cães sempre vivem o momento presente, diferente dos humanos, por exemplo. Isso quer dizer que os animais já são geneticamente preparados para se adaptarem às mudanças.
Os cães nascem em uma matilha e, conforme vão crescendo, o grupo mantém alguns membros enquanto outros irão sair. Processo este que é natural na vida dos canídeos, segundo George.
Por este motivo, o animal está instintivamente apto a se adaptar a diversos ambientes e pessoas. Ricardo Pinheiro Machado atua com George como instrutor no Instituto. Ele completa que para o animal as mudanças são processos naturais. “A capacidade do cachorro de adaptação é altíssima”, disse.
Já no caso das pessoas que atuam nesse processo, como os profissionais do Instituto e a família socializadora, é preciso preparo e conhecimento sobre a causa a ser ajudada. George, por exemplo, declara que atua como um tipo de “professor de faculdade”. Mesmo que ele se identifique mais com um animal, se sente no papel de preparar o cão para o seu futuro profissional, no caso, na profissão de cão-guia.
“Fico na expectativa que o cão se torne um profissional que eu sei que ele tem potencial para ser. Não é que eu não tenha apego com os cachorros, mas o que eu sempre quis foi ver eles entrarem no mercado de trabalho e terem sucesso”, comentou George.
Outra medida feita para que o cão-guia perceba que a pessoa com deficiência visual será seu novo tutor, é que, durante a adaptação, os instrutores deixam de fazer contato visual. Diferente do que acontecia no treinamento. Nessa etapa, George pede que a própria pessoa com deficiência visual faça as possíveis correções necessárias no treinamento do cão-guia.
A partir daí, tudo relacionado ao cão quem passa a fazer é a pessoa com deficiência visual, como brincar, cuidar das necessidades diárias, escovar, levar ao veterinário, etc. Desta forma, o cão-guia automaticamente irá procurar a pessoa com deficiência visual quando precisar de alguma coisa.
No caso das famílias que recebem os cães ainda filhotes para a socialização, o Instituto Magnus estabelece um contrato e deixa claro o período em que o cão ficará com a família. Todo o processo de socialização é acompanhado pelo instituto, que estabelece os próximos passos do cão para se tornar um cão-guia.
A psicóloga e docente da Pontifica Universidade Católica (PUC) de Sorocaba, Ana Laura Schliemann, explica que esse processo de “criar apego” não só é comum, mas também esperado. O apego é a criação de uma ligação afetiva, de estima e afeição e, segundo a especialista, é esperado na socialização do cão-guia até mesmo para que ela tenha um “melhor resultado”.
Quando a família pega o cão ainda filhote precisa manter proximidade com o animal, o que, conforme Ana Laura, faz com que a pessoa socializadora acabe se apegando. Ou seja, quando a família devolve o animal é como se ocorresse uma perda e é preciso lidar com a perda.
“É como um processo de luto. É preciso entender que ele vai acontecer e respeitar o tempo necessário para enfrentar isso”, comentou a psicóloga.
Nem todos os cães que passam pelo treinamento se tornam cães-guias, informou George Harrison. O índice de sucesso do Instituto Magnus registrado atualmente é de 58%, número considerado alto. Mas isso não significa que houve uma falha no processo de treinamento. Muitos cães possuem algum problema e não conseguem se tornar um cão-guia.
Essa situação é bem abordada pelo Instituto. Isso porque é importante identificar o cão que pode ser tornar cão-guia para que ele desempenhe o melhor trabalho possível ao lado da pessoa com deficiência visual. Desse modo, o cão que não está apto para ser um cão-guia não corre o risco de “sofrer” desempenhando sua profissão e ter qualidade de vida.
Mas, o que acontece com os cães que não se tornam cães-guias? Pensando no bem-estar do animal, o Instituto Magnus identifica qual é o problema do cão para designar sua nova profissão. Algumas dessas novas profissões, por exemplo, são os cães que vão para a polícia, os que se tornam cães terapeutas. Caso o cão não possa ter uma profissão, ele pode se tornar ainda um pet.
“É como se ele tivesse mostrado, durante a faculdade, que aquele curso que está fazendo não é algo que está fazendo ele feliz”, contou George.
Também existem casos em que a pessoa com deficiência visual não se identifica com o cão-guia. Para o instrutor, isso ocorre quando o possível tutor não está preparado para lidar com as responsabilidades de ter um cão-guia. O Instituto, então, busca outro tutor para o cão-guia.
Em agosto, o Instituto Magnus formou uma nova turma de cães-guias, integrada por Flor, Marvin, Olívia, Paris, Popeye e Queen. Eles iniciaram a fase de adaptação com as pessoas com deficiência visual em 19 de agosto, onde se hospedam por 15 dias com os novos tutores, no próprio Instituto.
Amanda Albuquerque, moradora de Salto de Pirapora, foi responsável pela socialização de Olívia. Há cinco meses a técnica de segurança do trabalho entregou Olívia ao Instituto para passar pelo treinamento para se tornar cão-guia.
Durante oito meses, Amanda mostrou o mundo para a filhote de labrador que seria o futuro cão-guia de uma pessoa com deficiência visual. A socializadora também relata a falta do animal, mas que como tudo foi muito esclarecido pelo Instituto sempre se lembrou do motivo pelo qual entrou para o time das famílias socializadoras.
“Senti muito a falta dela, mas tenho consciência que estamos fazendo bem ao próximo”, completou Amanda.
O cão Senna faz parte da nova turma que está começando o treinamento específico de cão-guia, junto de Sombra e Tina. Ele foi entregue pela responsável na família socializadora, Vera Lúcia de Arruda Oliveira após 11 meses de socialização. Atualmente, está sendo treinado para ser um cão-guia pelos instrutores do Instituto.
Vera acabou de passar pelo processo de “desapego” com Senna e, apesar de declarar que irá sentir falta do animal, tem ciência que entrou para a socialização para ajudar na causa. “A gente sabe que o cão não é da gente, mas mesmo assim é difícil”, afirmou Vera. Ela conta que no dia da entrega para o Instituto Senna estava muito muito feliz e brincalhão, que “ficou muito bem”.
“Foi uma experiência muito diferente, que eu jamais achei que ia passar,”, disse a socializadora que já pensa em mostrar o mundo para outro cão do instituto.
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