Eloy de Oliveira
Estive à frente da Secretaria de Comunicação e Eventos da Prefeitura de Sorocaba de janeiro de 2017 a abril deste ano. Nesse tempo sempre respeitei a independência editorial do jornal Cruzeiro do Sul. Não apenas do Cruzeiro, mas dos outros veículos e tipos de veículos de comunicação locais e da região, como TVs, rádios e sites de notícias.
Por que digo isto? Porque, em um e-mail do prefeito José Crespo, endereçado a mim, quando eu ainda estava no cargo, divulgado recentemente, no qual trata-se especificamente do Cruzeiro, o chefe do Executivo me cobra para que eu fizesse intimidações ao Jornal. Nesse e-mail o prefeito José Crespo ordena que eu ameace cortar toda a publicação de “matéria paga”, no entendimento dele, caso o Cruzeiro continuasse agindo como estava, com independência. Crespo se referia à campanha publicitária veiculada, não apenas no Jornal, como pode ser constatado pelos leitores, mas também em outros meios: TVs e rádios. A referida ordem de corte se condicionava a se “alguém lá de dentro” ou se a diretoria da Fundação Ubaldino do Amaral, que mantém o jornal, insistisse em divulgar “matérias capciosas”.
Como exemplo desse tipo de publicação, o prefeito cita no mesmo e-mail a reportagem do dia 23 de fevereiro deste ano intitulada: “Catorze meses depois, revitalização da Juvenal de Campos é entregue”.
O e-mail do prefeito termina com mais uma ordem: para que eu informasse ao jornal Cruzeiro do Sul que seria processado caso ultrapassasse o limite da crítica política. No entendimento dele, o Cruzeiro deveria divulgar a agenda negativa do seu governo apenas se ocorressem falhas e, mesmo assim, se desse à Prefeitura a chance de expor a sua versão/explicação em tempo de sair na mesma edição. Essa posição, frise-se, o Cruzeiro do Sul sempre teve. Esta é uma postura rígida do jornalismo sério adotado não apenas pelo Jornal, como também por outros vários veículos de comunicação em Sorocaba e região.
Não preciso dizer que não tomei as medidas sugeridas pelo prefeito, afinal não concordava com elas e porque não havia tal qualquer acordo ou moeda de troca. O próprio leitor pode observar nas páginas deste jornal o quão crítico o Cruzeiro tem sido à administração Crespo. Todas as páginas estão aí para serem lidas. Não se deve confundir material publicitário, quando se compra espaço para publicações de mensagens publicitárias (anúncios), com material editorial. Nossa escolha pelo Cruzeiro do Sul também não foi aleatória. Ela ocorreu pela influência que o jornal tem em nossa região, em especial pela qualidade e maturidade dos seus leitores. Ninguém contesta a influência que o Cruzeiro do Sul tem na Região Metropolitana de Sorocaba. É um exemplo do veículo jornal. Já a TV alcança bem mais pessoas, mas é outro tipo de canal de veiculação, onde a mensagem tem menor durabilidade.
Quando estive à frente da Secretaria não deixei de utilizar todos os meios e nunca procurei influir na linha editorial de nenhum desses veículos ou canais de comunicação.
Trabalhei no Jornal Cruzeiro do Sul em duas oportunidades. Conheço bem a postura do jornal, do seu atual Editor-Chefe e dos colegas jornalistas que lá trabalham e da Diretoria da Fundação Ubaldino do Amaral. Não fiz qualquer pressão como queria o prefeito naquela ocasião para garantir “reportagens positivas”.
Por fim, é preciso esclarecer que não havia publicação de “matérias pagas” em nenhum jornal da cidade. Tínhamos anúncios pagos e não textos jornalísticos. Outra coisa importante a tornar clara: não fazíamos a divulgação de forma discricionária, ou seja, privilegiando este ou aquele veículo, até porque legalmente nem se pode fazer isso. As divulgações, a escolha de mídia a ser utilizada, levavam sempre em conta o alcance e a sua influência. Isto tanto para a mídia jornal como para os outros veículos. Essa definição vinha de pesquisas de audiência da mídia que a agência de publicidade contratada realizava.
Quero frisar novamente que a publicação de matérias ou reportagens, positivas ou negativas, sempre contaram com a apresentação do lado oficial. Não era necessário cobrar isto dos veículos. Este é um princípio basilar do jornalismo e sempre foi respeitado pelo Cruzeiro e pela imprensa como um todo, com pequenas exceções que atendem a interesses próprios.
Lamento que uma ordem como aquela tenha partido do prefeito. Determinações desse tipo apenas mostram o nível de pressão que eu e minha equipe de comunicação sofremos na Secretaria durante o atual governo, o que não foi saudável e positivo para ninguém.
Eloy de Oliveira é jornalista e ex-secretário de Comunicação da Prefeitura Municipal de Sorocaba.
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