Há anos, a cidade de Faina tornou-se um lugar comumente associada a algo ruim, ou termos pejorativos. Quem é de Goiás, provavelmente já ouviu muitas piadas ou referências negativas ao município. No entanto, tal fama passou a ser conhecida inclusive pelo Brasil, e até mesmo internacionalmente.
Segundo um conto popular, um homem estava a caminho da região do Rio Araguaia para abandonar alguns gatos. Ao passar por Faina, ele decidiu deixar os animais ali. No entanto, os gatos supostamente gritaram: “Faina, não”. A história é bem conhecida entre os moradores do município e é uma das poucas coisas que os visitantes geralmente conhecem sobre o lugar.
O causo virou, inclusive, piada que os comediantes Nilton Pinto e Tom Carvalho reproduziram em shows e gravações. Até mesmo o cantor Leonardo contou o dito popular durante uma participação no antigo Domingão do Faustão, da Globo.
A reputação negativa mexeu tanto com a comunidade de Faina que moradores da cidade passaram a tentar mudar essa imagem, compartilhando nas redes sociais as belezas da região e adotando com orgulho o lema “Faina, sim”.
Mas, será que apenas um simples conto popular fez a cidade ganhar essa fama? O Jornal Opção foi atrás da história e ouviu Márcia Coutinho, ex-assistente social de Faina e que tem uma forte ligação com o município.
Origem
Apesar de não ser nascida em Faina, Márcia conta que conhece muito bem a região. Natural da Cidade de Goiás, a ex-assistente social passou boa parte da infância no município, já que o pai era dono de terras no local.
“Mesmo não sendo de lá, eu conheço a história”, começa o relato, explicando como Faina sempre esteve presente em sua vida, mesmo sem ser sua terra natal. “Meu pai teve propriedade em Faina, e nós temos ainda. Então, faz parte de nossas vidas”.
Segundo Márcia Coutinho, a história tem raízes na qualidade da água do município. “A água da região é pesada. Já ouviu falar em água salobra? Você toma e sente um gosto diferente na água”, explica. Salobra é um adjetivo que pode referir-se a algo que tem um gosto salgado ou a água que tem um gosto desagradável e não é própria para beber.
Nesse sentido, Márcia afirma que essa peculiaridade fez com que os caminhoneiros que passavam pela antiga “estrada do boi”, uma rota muito utilizada antes de ser asfaltada, começassem a reclamar da água local. “Eles tomavam a água e reclamavam, começaram a falar assim: Ah, vai ser ruim lá no Faina”, acrescenta.
O ditado, inicialmente relacionado à água, acabou se transformando em uma expressão pejorativa, alimentada pelas piadas de domínio público que associavam o município a algo negativo. “Com o passar do tempo criaram histórias em cima disso”, reflete Coutinho, destacando que essa evolução acabou por estigmatizar Faina, sem que muitos conheçam a verdadeira origem do termo.
Consequências
A conexão de Márcia com Faina vai além das propriedades de seu pai. Como assistente social, ela trabalhou diretamente com as comunidades locais, o que lhe proporcionou uma proximidade maior com os moradores e suas histórias.
A história trouxe consequências negativas para a autoestima dos moradores, conforme ela relata. “As pessoas incorporaram esse negócio de ‘vai ser ruim lá no Faina'”, comenta, apontando que muitos moradores desenvolveram uma espécie de vergonha por serem de Faina. “Muita gente criou uma baixa estima por causa disso, por ser de lá”, explica.
A ex-assistente social afirma que o contato com a comunidade fez ela tomar as dores da população para si. “Os artistas não pensaram na comunidade para divulgar essa piada. Fez o povo recuar ainda mais”, conta, que decidiu tomar para si a missão de resgatar o orgulho da população local com alguns projetos culturais de valorização da região. “Eu percebi o quanto doía no povo isso. Eu tomei as dores para mim”, admite.
História
Faina começou como um povoado e foi parte da Cidade de Goiás até 1989, quando ganhou autonomia. Localizada ao longo da GO-164, Faina se situa entre a cidade de Goiás e São Miguel do Araguaia.
Até mesmo pela sua ligação com a Cidade de Goiás, a história de Faina ainda inclui um período de exploração de ouro. Com uma população de cerca de 7 mil habitantes, segundo o último censo de 2022, a economia local é sustentada principalmente pelo serviço público e pelo comércio.
Entre seus atrativos naturais, destaca-se a cachoeira da Associação Campo da Paz, que se encontra em uma comunidade com 15 residências. Por estar em uma propriedade privada, é necessário obter a permissão dos administradores para a visita. Uma trilha curta e fácil leva até a cachoeira, que tem cerca de 8 metros de altura e forma um pequeno lago de coloração esverdeada.
“Lá tem muitas cachoeiras. O Sebrae fez uma catalogação de 18 cachoeiras, mas tem muito mais do que isso. Ou seja, poderia se tornar um lugar turístico, com muitas vantagens”, finaliza Márcia.
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