Responder ao questionamento se Goiás e Goiânia são redutos eleitorais antipetismo não é fácil. Quando analisamos os resultados das eleições presidenciais no Estado e na Capital, a rejeição parece ser insuperável, mas há tantas variáveis durante as eleições que é difícil determinar se o voto anti-PT tem razões nas preferências coletivas ou no momento político e econômico que o estado atravessou.
Nas eleições presidenciais em Goiás, o eleitorado se comporta de maneira variável, garantindo vitórias para o PT em algumas eleições e derrotas significativas em outras. Segundo dados estratificados do Portal Dados Abertos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Partido dos Trabalhadores teve conquistas significativas desde a eleição de Darci Accorsi, em 1992. Nos anos 2000, Pedro Wilson (PT), conquistou a Prefeitura de Goiânia sobre o ex-prefeito Darci Accorsi, que disputou pelo PTB, por uma diferença de quase 40 mil votos.
Em 2004, Pedro Wilson perdeu para Iris Rezende, do MDB. Em 2008, o PT compôs com o MDB e indiciou Paulo Garcia para a vice. A chapa bateu o PP de Sandes Júnior. Em 2010, Iris Rezende se afastou da Prefeitura para disputar o governo estadual e Paulo Garcia assumiu. Em 2012, Garcia garantiu a reeleição em cima de Jovair Arantes, com uma ampla vantagem. Desde então, no entanto, o partido ainda não alcançou o segundo turno nas eleições municipais.
Quando se trata de eleições gerais, o eleitor goianiense e goiano mostra um histórico de idas e vindas. Em 1998, os goianos deram ampla vitória para a reeleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) contra Lula (PT). Foram 1.247.510 votos para o tucano contra 371.175 do petista. A popularidade de FHC foi impulsionada pela estabilidade econômica alcançada com o Plano Real, que controlou a hiperinflação dos anos anteriores e a a manutenção de uma moeda estável. Durante aquela disputa, Goiás era governador por Iris Rezende (MDB) e a Capital estava sob o comando de Nion Albernaz (PSDB).
Já em 2002, o cenário mudou e Lula recebeu 1.069.398 votos contra 70.025 do tucano José Serra, no primeiro turno em Goiás. No segundo turno a diferença caiu, tendo o petista recebido mais de 1,4 milhões de votos, enquanto o tucano recebeu pouco mais de 1 milhão.
O cientista político e professor da PUC, Guilherme Carvalho, explica que os fatores mais decisivos para o voto são economia e afeto, mas que esses fatores são volúveis, mutáveis e solúveis. “Fatores como economia e afeto são extremamente subjetivos porque a satisfação que você tem com mudanças, por exemplo, na política inflacionária só vão ser percebidas no dia a dia e no médio prazo”. Ele acrescenta que a adesão de imagem de um líder e sua rejeição não são facilmente perceptíveis nem compartilhadas por o ser humano “é composto por uma série de variável que movem” as emoções.
Quando se fala das eleições presidenciais recortadas por Goiás e Goiânia, o PT venceu poucos pleitos na nova democracia. Fatores culturais e políticos podem ajudar a começar a entender esse cenário, mas não explicam totalmente as preferências, apenas o momento. “Não dá para generalizar e dizer que Goiás é um Estado antipetista. Um trabalho da pesquisadora Denise Paiva e Pedro Mundin sobre o perfil do eleitorado goianiense mostra que esse eleitor é do centro para a esquerda”, demonstra.
Ele exemplifica esse cenário a partir das vitórias do MDB, que na Capital goiana “sempre teve uma plataforma bastante social”, conduzido pelo principal líder Iris Rezende, além dos trunfos do Partido dos Trabalhadores em 1992 com Darci Accorsi e 2012 na reeleição de Paulo Garcia. “Eu acho que é razoável questionar se Goiás se tornou mais conservador ou ampliou o antipetismo. Eu não neguei o antipetismo, mas ele não é um fator estático, ele pode ser dinâmico, pode aumentar ou diminuir”, comenta.
Um fator cultural predominante em Goiás são os costumes do campo. Tido como um dos Estados mais importantes quando o assunto é agronegócio, esse elemento tende a encontrar nos adversários do PT a alternativa para as pautas políticas e, em alguns casos econômicos. Essa cultura do campo se choca com as pautas progressistas que passam a ser presentes no Partido dos Trabalhadores a partir de 2006. “Não necessariamente é um fator político, é um fator mais cultural. Claro que as pautas ideológicas do PT entra em choque com a do campo com a urbanização, são temas muito cosmopolitas, então tem sim essa estranheza”, explica Carvalho.
O especialista reconhece que esse eleitorado se identificou com o bolsonarismo a partir de 2018, mas que isso também é algo estático e que pode ser revertido. “Não dá para dizer necessariamente que o agro é bolsonarista, mas hoje, claro, eles estão mais ao lado porque ele é uma alternativa de visão de mundo que o PT adotou, que não é uma adoção desde a fundação do PT não, porque esses temas mais progressistas é uma agenda que chega por volta de 2006 pra frente”, demonstra.
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