As ausências na aglomeração da extrema direita do fim de semana em Balneário Camboriú têm, em alguns casos, a mesma dimensão das presenças. Mesmo que as presenças tenham sido óbvias e sem nomes de grande expressão ao lado de Jair Bolsonaro, além de Tarcísio de Freitas e Javier Milei.
O que não é óbvio é que algumas figuras que disputam o espólio de Bolsonaro se encolheram, como os governadores Ronaldo Caiado e Romeu Zema. E outros não apareceram na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC) porque o momento não é o de mostrar a cara.
Entre esses últimos, que preferem ficar escondidos, foram notadas duas significativas, mesmo que previsíveis. O senador Jorge Seif (PL) não apareceu, ou se apareceu ficou nos cantinhos, sem palco e sem exposição.
Seif é do primeiro time de Bolsonaro em Santa Catarina. Mas está no banho-maria do que seria o acordo para saber quem vai e quem não vai para o sacrifício do sistema de Justiça, entre golpistas, muambeiros e criminosos da pandemia e de outras áreas.
Seu caso é da área eleitoral, no TSE, e teve julgamento suspenso desde que foi pedido acréscimo de provas à ação em que é acusado de abuso de poder político e econômico na eleição ao Senado em 2022. Seif havia sido absolvido pelo TRE de Santa Catarina.
O senador está na moita, até que decidam, como decidiram sobre o caso de Sergio Moro no TSE, se a situação dele é de degola ou de indulto. A ação está parada desde 30 de abril. Moro, como se sabe, já escapou.
O outro ausente de peso, o autoproclamado véio da Havan, tem relação com o caso de Seif. É o pivô da acusação do delito de abuso de poder econômico.
Seriam dele as aeronaves que foram usadas por Seif de forma abusiva, segundo a denúncia da coligação formada pelos partidos Patriota, PSD e União Brasil, na campanha ao Senado. O candidato também teria sido beneficiado pelo uso da estrutura da rede Havan.
São acusações semelhantes às que levaram à cassação, em maio de 2023, pelo TSE, do mandato do prefeito de Brusque, José Ari Vequi. Nesse caso, o véio, também condenado, ficou inelegível por oito anos.
Luciano Hang havia sido a estrela da maior aglomeração bolsonarista já realizada em Santa Catarina, a Marcha para Jesus, em junho de 2022, no mesmo Balneário Camboriú.
As ausências de Hang e Seif na conferência expõem as dificuldades que eles enfrenta com o cerco da Justiça. Às vezes, é arriscado ser bolsonarista. Tanto que o empresário (investigado em outros inquéritos) produziu um vídeo, depois da eleição, para dizer que agora torce por Lula.
Bela Megale registra no Globo as desculpas de Caiado e Zema para não terem comparecido. A assessoria de imprensa de Zema informou que ele “não recebeu o convite formalmente” e que a chamada só ocorreu na quinta-feira, dois dias antes do início da conferência.
Caiado foi convidado por um deputado federal de Goiás, mas disse que declinou do convite por questões pessoais. Naquele fim de semana, fazia dois anos que ele havia perdido um filho.
A verdade é que, num balanço sem muito esforço, a lista de presenças na conferência é de gente da extrema direita, e não do conservadorismo, com fortes vínculos com Bolsonaro e um detalhe em comum: muitos são impunes que o sistema de Justiça demora para alcançar.
Valdemar Costa Neto, por exemplo, esteve em Santa Catarina, como presidente do PL, mas não pode aparecer ao lado de Bolsonaro, porque Alexandre de Moraes determinou que eles (que estão sob investigação) se mantenham afastados, como acontece com líderes de facções monitorados pela Justiça.
E o detalhe mais desalentador é que, na tarde em que Milei deveria brilhar, chegou ao local da confraria a informação de que a esquerda havia vencido a eleição parlamentar na França. A volta dessa gente pra casa deve ter sido terrível. Ainda bem que Zema, Caiado, Jorge Seif e o véio da Havan já estavam em casa.
*Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre. É autor do livro de crônicas Todos querem ser Mujica (Editora Diadorim).
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