Amizade. Romantismo. Paixão.
Muita gente não percebeu.
Mas nesta semana teve o Dia do Beijo.
João Walter estranhou.
-Ué. E a pandemia?
O namorado dele se chamava Raul.
-Que mania, João Walter.
-Contamina. Não sabia?
-Bom. Mas se o casal está confinado?
-Dia do Beijo é diferente.
O rapaz era romântico.
-Tem de ser de impulso. De repente.
Ele sonhava.
-No meio da rua. Com um desconhecido.
Raul fazia a limpeza do apê.
-Safado. Você é um safado, João Walter.
-Se não for assim, não tem sentido.
Raul terminou a faxina.
-Vem cá, seu prostituto.
O beijo foi longo e satisfatório.
Com direito a selfie.
João Walter colocou a máscara.
-Precisa alguma coisa da farmácia?
-Pasta de dente, João Walter.
A sugestão era sutil.
-Estou com bafo?
-Passa até pela máscara, João Walter.
Lágrimas nasceram naqueles olhos cor de avelã.
-Logo no Dia do Beijo? você jogar isso na minha cara.
No caminho, o posto de saúde.
A vacina da Covid beneficiava o sr. Beraldi.
O beijo de João Walter foi repentino. Cego. Inconsequente.
Com máscara e tudo.
-Vacinou, tá pronto.
A saliva, hoje em dia, tem sabor de liberdade.
Leia mais (04/16/2021 - 10h00)