Todos os anos, os chamados profetas da chuva do interior do Ceará se reúnem para divulgar suas
previsões para a quadra chuvosa na região -período que geralmente vai de janeiro a junho e é crucial para o sustento das famílias de pequenos agricultores locais. Com a pandemia do novo coronavírus, no entanto, até eles tiveram de
aderir ao "trabalho remoto".
Os profetas são nordestinos que dizem antever as chuvas no semiárido observando sinais da natureza, como a floração de determinadas plantas, o comportamento de pássaros ou o movimento dos insetos. Para alguns deles, por exemplo, se o joão-de-barro não estiver no ninho é sinal de chuva.
"A formiga é o bicho mais inteligente que existe", define o agricultor Titico Báia, de 69 anos e há 35 como profeta. "Elas começam a limpar o formigueiro no verão e jogam o bagaço seco fora. Dali a 90 dias, a chuva vem. Quando o sapo cururu se prepara para começar a cantar, também é sinal de água."
Báia é conhecido por observar a natureza principalmente em três dias de setembro e três em outubro. O comportamento de animais, do vento e da lua nesses dias ajuda a prever como será a chuva no primeiro semestre do ano seguinte. "A gente vive da safra de milho e de feijão. E a regularidade da chuva é o que define se a vida vai ser mais fácil ou mais difícil naquele ano. Em 2021, a chuva só não foi mais esperada
do que a vacina."
"Em uma época em que não tínhamos medições regulares na nossa região, essas mulheres e esses homens eram a bússola para os agricultores. Eles diziam a hora certa de plantar e ajudavam a garantir uma colheita melhor", conta o diretor do Instituto Federal do Ceará (IFCE) de Tauá (337 km de Fortaleza), José Alves Neto. Ele é um dos organizadores do encontro dos profetas da chuva da região do sertão dos Inhamuns, que acontece há cinco anos. "Mesmo hoje, os órgãos que medem as chuvas escutam o que os profetas têm a dizer."
Leia mais (04/10/2021 - 16h00)